quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Máquina que faz PING!

Trata-se da primeira cena do filme The Meaning of Life (em português: O Sentido da Vida), o último e mais polêmico longa dos comediantes britânicos do Monty Python, sobre o qual eu já comentei aqui antes, mas que hoje trago de volta para fazer uma breve reflexão sobre um dos grandes perigos que o jovem de hoje enfrenta: o consumismo.

Em The Meaning of Life, um grupo de peixes num aquário explora, numa série de esquetes separadas, as diversas circunstâncias da vida humana, do nascimento até a morte. Com tiradas hilariantes ao extremo - e outras que podem irritar extremistas - o filme tenta levar o espectador a refletir sobre o verdadeiro sentido da vida. Uma obra de arte, como são aliás todos os trabalhos do grupo.

Mas vamos ao que interessa. Você certamente já viu alguma máquina que faz um ruído característico. Computadores, por exemplo, fazem "bip". Celulares podem fazer diversos sons, dependendo do que o dono programar. E claro, há os videogames, que fazem "ekke ekke ekke ekke ptang-zu-bóing". Não, esperem. Isso quem faz são Cavaleiros que Dizem NI.

Bom, que seja. De qualquer forma, existem também algumas máquinas que fazem "ping". Mas eu garanto que nenhuma delas faz "ping" como A Máquina que faz PING! (leia-se PING!, no tom mais agudo possível).

Se o governo quiser investir em saúde, deve começar equipando todos os hospitais com uma Máquina que Faz PING!. É uma maravilha da ciência moderna! Com A Máquina que Faz PING!, não precisariam se preocupar com mais nada.

"Mas afinal", você se pergunta, "o que essa máquina faz?" E eu respondo sarcasticamente: "Ora, o nome já diz! A Máquina que Faz PING! faz... PING!".

Só isso? Só isso. Mas é um dos equipamentos mais caros da maternidade onde uma jovem está prestes a dar à luz.

Existem pessoas que fariam qualquer coisa para ter uma Máquina que Faz PING!. Mesmo sabendo que ela não os deixaria dormir à noite e só serviria para fazê-las gastar dinheiro - imaginem quanto custa a manutenção de uma máquina dessas. Mas elas precisariam dela, nem que fosse apenas para espalhar aos outros que elas têm.

A Máquina que Faz PING! é um exemplo claro da situação atual de boa parte da juventude. A mídia, especialmente a televisão, nos diz que nós valemos por aquilo que nós temos. Quanto mais você tem, mais você vale. Mas não basta ter tal coisa; é preciso que tal coisa esteja na moda. 

Pessoas que são excluídas, taxadas de "inferiores", apenas porque não têm um par de tênis de R$300,00 - que é quase o salário mensal de boa parte dos trabalhadores brasileiros.

Outras que se matam para comprar uma calça igual à dos integrantes daquela banda de sucesso, apenas para descobrirem, depois de uma semana, que com o mesmo dinheiro poderiam ter comprado várias calças mais baratas - e mais confortáveis.

A pessoa pode ser um pulha, o tipo de gente que ninguém gosta de chegar nem perto, mas se ela tiver dinheiro, estará sempre rodeada de "amigos". Mas de que adianta tudo isso, se quando chegar a hora perderemos todas essas coisas? O que nós vamos levar daqui?

O mesmo filme que nos apresenta a maravilhosamente inútil Máquina que Faz PING! - tão inútil, se comparada a outras máquinas parecidas, quanto um par de tênis de R$300,00 ou um par de calças coloridas que mais parecem de palhaço - também nos dá a resposta. Não importa se somos ricos ou pobres, se andamos na moda atual ou na de cinco anos atrás, se temos em nossa garagem um carro do ano ou uma mula atrelada a uma charrete: nosso destino final vai depender unicamente do que nós somos, porque o que temos... isso não vai valer absolutamente nada!

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