segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Epifanias

Não se trata aqui da festa da Epifania do Senhor, comemorada ontem pela Igreja Católica e que celebra a revelação de Jesus Cristo à humanidade. Segundo a Wikipédia:

Epifania é uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do afeto de alguém. O termo é usado nos sentidos filosófico e literal para indicar que alguém "encontrou finalmente a última peça do quebra-cabeças e agora consegue ver a imagem completa". O termo é aplicado quando um pensamento inspirado e iluminante acontece, que parece ser divino em natureza (este é o uso em língua inglesa, principalmente, como na expressão I just had an epiphany, o que indica que ocorreu um pensamento, naquele instante, que foi considerado único e inspirador, de uma natureza quase sobrenatural).

Nesse sentido, foi um final de ano de epifanias para mim. A última semana, em particular, foi repleta delas. Na quinta-feira, recebemos a notícia de que um amigo nosso tinha morrido. Passando o Reveillon na chácara da família, no estado de São Paulo, Renan Fakeiti acabou se afogando. E esta foi a minha primeira epifania.

Nunca antes eu tinha passado por algo assim. Embora não fôssemos exatamente próximos um do outro, eu ainda o considerava um bom amigo. E perdê-lo assim, de repente, me fez perceber o quanto eu preciso valorizar mais aqueles que eu amo, pois nem sempre eles estarão por perto. É, eu sei que pode parecer um pensamento meio clichê, mas acreditem: a gente nunca o leva realmente a sério até que sintamos na pele o que ele significa.

Ontem um amigo meu veio me visitar e contar como passou o Ano-Novo. E foi nesse momento que eu tive mais uma epifania.

Entre as experiências que ele me narrou, uma foi especial. Caso esteja imaginando que isto é um eufemismo, eu lhe digo que sim, é um eufemismo. E caso não saiba o que é eufemismo e esteja com preguiça de procurar no Google, eu explico: eufemismo é quando nós usamos uma palavra ou expressão com o mesmo significado, mas que em si é mais "leve" do que aquilo que realmente queremos dizer. Confuso? Um exemplo: quando dizemos que "Fulano roubou os bens de Sicrano", esta parece uma frase meio "pesada", não? Mas podemos usar um eufemismo para deixá-la mais "leve", substituindo a expressão "roubou" por, digamos, "apropriou-se". Assim, ficaria "Fulano apropriou-se dos bens de Sicrano". Repare que o significado permanece o mesmo, mas a expressão já não é mais tão pesada.

Portanto, voltando da aula de Português, esse meu amigo me narrou uma das experiências que ele teve no Ano-Novo. Uma experiência especial, embora - como você certamente já deduziu após a enorme explicação ali em cima - não tenha sido algo "especial" no bom sentido da palavra. Trata-se de um escorregão (olha o eufemismo aí de novo, desta vez misturado com uma metáfora! Agora, se você não sabe o que é metáfora, procure no Google que eu não tô mais com paciência de explicar), e um escorregão bem feio. Não vou entrar em detalhes aqui por motivos óbvios, mas apesar de ser feio - e quando eu digo feio, é feio mesmo, sem eufesmismo algum - não é tão feio quanto um que eu mesmo levei alguns anos atrás - e sobre o qual eu também não vou entrar em detalhes por motivos igualmente óbvios.

A questão é que, quando ele me contou, minha primeira reação (após o choque inicial, claro. Afinal, foi um escorregão terrível) foi de apontar o dedo na cara dele e dizer o quanto ele estava errado em ter feito aquilo. Mas antes que eu tivesse a oportunidade, me lembrei do meu próprio escorregão, e depois fiquei pensando em como nós temos o hábito de "esquecer" nossos próprios erros quando nos é conveniente, e ficar apontando os erros dos demais como se nunca tivéssemos pisado na bola antes. Ok, eu sei que isso também é um pensamento extremamente clichê. Mas nunca tinha experimentado isso com tanta intensidade como ontem, e por isso foi, sim, uma verdadeira epifania para mim. Obviamente, isso não quer dizer que não devamos corrigir os erros dos outros quando sabemos que eles estão errados, mas sim que temos de fazer isso sem violência, sem julgamentos e sempre levando em conta que, se são eles hoje, podemos ser nós mesmos amanhã. Ou ontem, no meu caso.

Houve, ainda, mais uma, que envolve uma tia minha e a inconveniência de se discutir determinados assuntos em determinadas situações, mas essa fica pra uma outra vez.

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