quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O rei e os peixinhos do lago

Nas vizinhanças do palácio do rei havia um pequeno lago onde viviam tranquilos muitos peixinhos.

Um dia, ao regressar de um passeio, o rei chamou um de seus auxiliares e disse-lhe:

- Tenho muita pena desses peixinhos que vivem tão modestamente no lago. É preciso que tenham mais espaço para nadar e mais liberdade para viver. Determino, pois, que todos eles sejam, amanhã, muito cedo, transportados para o grande rio que banha a cidade.

A ordem do rei foi rigorosamente obedecida. Todos os peixinhos foram retirados do lago e levados para o rio caudaloso que passava ao longe.

- Agora sim - comentou, vaidoso, o rei - poderão viver perfeitamente felizes pois no grande rio, graças à minha bondosa providência, os peixinhos terão mais recursos e mais liberdade.

- Muito se engana Vossa Majestade - observou o mais sábio dos ministros. - Estou certo de que a mudança de vida foi, para os peixinhos do lago, uma verdadeira desgraça. No lago eles viviam tranquilos e seguros; no rio serão, a todo momento, perseguidos e talvez devorados, impiedosamente, pelos peixes vorazes. A corrente violenta os arrastará para o meio das pedras ou os levará para o meio do lodo.

E foi o que, afinal, aconteceu. Os peixinhos do lago perderam-se, para sempre, nas águas barrentas do grande rio.

É um erro julgar-se que a excessiva liberdade é um bem. Se os peixinhos do lago viviam felizes na sua modéstia e obscuridade, para que foi o rei caprichoso levá-los para o tumulto e para a luta?

Não há liberdade senão quando só se faz o que é direito e justo.

A liberdade não é apenas um direito; é, também, uma séria responsabilidade.

Não consiste a liberdade em fazer o que se quer, mas em fazer o que se deve.

Todo aquele que ergue a voz contra a liberdade é porque encontra, ou espera encontrar, algum proveito na escravidão dos outros.

O direito sem o dever é anarquia; o dever sem o direito é escravidão. O direito e o dever, ligados indissoluvelmente um ao outro, são a liberdade.

A liberdade é mais vezes destruída pelos seus excessos do que pelos seus inimigos.

Ensina o Rev. Raulica: "A verdadeira liberdade é fazer tudo o que é justo, legítimo e conforme as leis de Deus."

O que o jovem mais busca é a liberdade. Ai de quem tentar recriminá-lo, especialmente se forem os pais. Mas se não tomar cuidado, acaba se perdendo para sempre na correnteza da vida. Vivamos, pois, a vida com liberdade e desfrutemos dos nossos direitos, mas não nos esqueçamos, de maneira alguma, de nossos deveres!

(Do livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan)

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