terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Os Pequenos Sacrifícios

A vida é entremeada de sacrifícios. Fazemos sacrifícios o tempo todo. Às vezes, até sem perceber. Quando acordamos cedo, num dia chuvoso, para ir para a escola ou trabalhar, não deixa de ser um sacrifício que fazemos. Quando deixamos de ir a uma festa com os amigos porque temos uma prova na manhã seguinte, também é. Quando nossa mãe deixa de ir dormir para nos esperar chegar da rua, também é um sacrifício que ela faz - e nós podemos aqui fazer mais um, procurando chegar mais cedo para que ela possa descansar.

Sim, a vida é entremeada de sacrifícios. Uns maiores, outros menores. E aqui vem a questão: qual tipo de sacrifício é o mais difícil de se fazer?

Narra Sainte-Beuve a história de uma antiga abadessa muito dedicada à vida religiosa, que, afastada de seu cargo, não pôde decidir-se a deixar a chave de um jardinzinho, no qual seus privilégios anteriores lhe davam direito de entrar. É muito fácil guardar a chave de um jardim, mas custa tanto, às vezes, desfazer-se dela!

Pensem bem: o que seria mais difícil para uma pessoa viciada em chocolate, por exemplo: ficar apenas um dia em jejum, sem comer nada, ou permanecer uma semana comendo tudo o que quiser, exceto chocolate? Obviamente que a segunda opção seria a mais difícil, muito embora represente um sacrifício visivelmente menor.

Outro exemplo: uma pessoa que mora sozinha e não tem empregada. Como seria melhor ela fazer para limpar a casa? Esperando que se acumulasse sujeira por um mês e depois fazer uma faxina geral; ou todos os dias dar uma varrida, espanar os móveis, recolher o lixo? A primeira opção claramente indica um trabalho maior, embora a segunda indique um sacrifício mais complicado, ainda mais se levarmos em conta que essa pessoa, morando sozinha, não teria tanto tempo livre todos os dias. Ainda teria que abrir mão das poucas horas de folga para arrumar a casa.

Como se vê, por incrível que pareça, os grandes sacrifícios fazemo-los facilmente - com uma facilidade, já se vê, relativa - mas os pequenos, esses custam-nos enormemente.

Parecemo-nos àquele menino que tem o armário cheio de brinquedos e, convidado a dar alguns aos pobrezinhos, acha que os brinquedos que lhe pedem são precisamente aqueles a que está mais apegado. Ou àquele outro a quem a mãe ensina as orações, e chegando a esta passagem: "Meu Deus, dou-vos tudo o que possuo", para e acrescenta em voz baixa: "exceto o meu coelhinho". Ou, ainda, àquela senhora que é capaz de subir de joelhos até o Cristo Redentor, mas não é capaz de parar de bisbilhotar a vida das vizinhas.

Mas uma coisa a se notar a respeito dos pequenos sacrifícios é que eles geralmente produzem frutos mais duradouros do que os grandes. Autocontrole, responsabilidade, desapego, respeito: esses seriam os frutos produzidos pelos pequenos sacrifícios dos exemplos acima.

Não estou dizendo que os grandes sacrifícios sejam ruins, ou inúteis; ao contrário, são bons e às vezes até necessários. Mas de que servirão, se não mudarem a nossa vida?

(Baseado em reflexão do livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan)

Nenhum comentário:

Postar um comentário