quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Feliciprocidade

Algum tempo atrás, descobri o blog oficial do cartunista Ziraldo (pra quem não sabe, o criador de personagens como o Menino Maluquinho e a Turma do Pererê) e instantaneamente me apaixonei por ele. Sempre fui fã de seu trabalho. Desde então, passei a frequentar o site ativamente, chegando a ler todas as historinhas de lá em poucas horas. Agora, estou no processo de ler as tiras. E uma delas, em particular, me chamou a atenção ontem à noite. Após uma briga entre seus amigos Junim e Carolina, Maluquinho, bancando o juiz, sai com esta:
"Se existisse uma só lei no mundo, devia ser 'faça os outros felizes, assim como quer que te façam'".

Fiquei com isso na cabeça. Obviamente, qualquer um percebe a semelhança entre esta sentença e aquela, proferida quase dois mil anos atrás, por um cara lá no Oriente Médio:
"Tudo aquilo que quiserem que os outros os façam, façam vocês a eles."
Entretanto, a versão de Ziraldo aprofunda-se totalmente no real sentido do conselho. Algumas pessoas mal-intencionadas tentaram, ao longo do tempo, distorcer certas passagens de textos sagrados para servir a seus próprios interesses. Até hoje isso existe, embora seja muito mais comum e os textos sagrados tenham sido substituídos por leis humanas, as quais, por mais que sejam bem-escritas, sempre dão margem a interpretações ambíguas.

Alguns poderiam, por exemplo, utilizar-se das palavras de Jesus como desculpa para se vingar de alguém que tenha lhes feito mal. Porém, vemos na fala do Maluquinho o resumo incontestável de toda doutrina religiosa baseada no amor e no respeito mútuo. Não há margem para interpretações erradas, e a única que há (a vaga possibilidade de alguém querer "forçar" outra pessoa a fazê-lo feliz) é facilmente rebatida com uma dose de lógica.

Por que as pessoas se sentem tão infelizes? Por que há cada vez mais e mais pessoas vítimas de depressão? Porque a sociedade, atualmente, está transformando-as em pessoas egoístas. Pessoas fechadas, que só se preocupam consigo mesmas e não estão nem aí pro que acontece ao seu redor. Pra essas pessoas, o importante é o que acontece com elas e suas vidas.

Se vão a uma festa, não é para se divertir com os amigos; é para se distrair dos problemas com um copo de bebida ou nos braços de um desconhecido. Se alguém se aproxima delas, já imaginam que é uma pessoa interessada em algo. Se vão à igreja, é unicamente para pedirem alguma coisa; se não precisarem de nada, nunca têm tempo para Deus.

A felicidade, para essas pessoas, se resume a ter sua vontade obedecida. E quem não concordar é anormal, é excluído do grupo, é visto como pária.

Os relacionamentos são baseados no egoísmo: "Eu quero ficar com aquela garota porque ela vai me dar prazer". Não interessa se a tal garota sente o mesmo ou não; o que importa é satisfazer a própria vontade. E depois ainda perguntam por que não são felizes, por que não conseguem se dar bem, por que suas vidas estão sempre na lama!

Vou lhes contar um segredo: os seres humanos têm a tendência de sempre querer devolver aquilo que recebem dos outros. Seja bom, seja ruim, tudo o que você fizer voltará para você, mais cedo ou mais tarde. Agora, a pergunta que não quer calar é: você prefere receber de volta a felicidade ou a infelicidade?

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