segunda-feira, 25 de outubro de 2010

As caixas e as pessoas-caixas


Hoje em dia tanto se fala em sustentabilidade, em evitar o desperdício de recursos naturais, e mesmo assim é difícil encontrar uma situação que nos cause surpresa quanto a isso. Difícil, mas não impossível. Isso porque algumas são simplesmente inverossímeis demais pra se acreditar. Vejam isto, por exemplo:


Recebemos essas caixas hoje de manhã na oficina. São peças que o meu pai pediu semana passada. Reparem bem: uma caixa enorme, cheia de "plástico-bolha-gigante", como eu gosto de chamá-lo, apenas com... uma palheta. Só. Mais nada. E não foi por falta de espaço, porque havia outra caixa igual, com lâmpadas e espaço sobrando pra colocar a palheta. Um desperdício de papelão, de plástico e de espaço.

Não sei se é a política da empresa embalar as palhetas separadamente ou se fazem isso apenas por preguiça mesmo - ou de birra, para ocupar mais espaço no caminhão da transportadora O que eu sei é que fiquei pensando nesse assunto por um tempo. E cheguei à conclusão de que existem muitas pessoas que são iguais a essa caixa.

Não, não se trata de pessoas quadradas. Trata-se de pessoas que por fora, parecem ser algo totalmente bom: grandes, leves, aparentemente superiores, mas por dentro nada mais são do que um vazio imenso. Não têm conteúdo. Só vivem de aparência.

Há ainda outras semelhanças entre as pessoas e a caixa: gostam de aparecer, de ficar por cima. Mas isso é só porque, pela falta de algo que as preencha por dentro, se ficarem embaixo de algo mais pesado, acabam amassadas e deformadas. Tentam se assemelhar a outras pessoas, mas o máximo que conseguem é copiar sua aparência. Além disso, geralmente só servem para ocupar espaço, pois nas raras ocasiões em que têm alguma coisa dentro, não é nada que não pudesse ter vindo de outra pessoa.

Por outro lado, também existe uma semelhança boa: assim como a caixa, as pessoas também podem mudar. Podem ser preenchidas com algo valioso. Mas para que isso aconteça, é necessário que elas se abram e tirem de dentro de si as coisas inúteis que impedem a entrada dos verdadeiros bens. E aqui é onde a caixa se difere das pessoas. Porque uma caixa é apenas um objeto, sujeito à vontade e à manipulação de outrem, enquanto as pessoas - mesmo estas - são menos manipuláveis. E tendem a se apegar demais à vida fácil e cômoda que levam, dificilmente aceitando, ou se adaptando, a mudanças tão bruscas.

Felizmente, as pessoas têm uma vantagem sobre as caixas: podem contar com outras pessoas. E se ambas as pessoas se ajudarem e se esforçarem, não há dúvida que aquela antiga "caixa" deixará de ser um entulho ocupador de espaço e se tornará alguém verdadeiramente cheio de coisas boas, capaz de ajudar outras pessoas em igual situação. Eu sei do que estou falando. Eu passei por isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário