quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O que te prende?

O que te impede de escutar?
O que te cega? O que te leva a se calar?

Essas são perguntas que todo mundo já fez a si mesmo alguma vez. São também os primeiros versos da música O que te prende?, do Dunga (não o ex-técnico da Seleção, muito menos o anãozinho da Branca de Neve), e que nos levam a refletir.

Falando francamente, o mundo atual está - como diriam os franceses - uma merde. Isso, todo mundo já percebeu. O que também, todo mundo já percebeu, é que vai continuar uma merde enquanto alguém não fizer alguma coisa pra mudar. Mas é aqui que a percepção de algumas pessoas parece falhar. Porque enquanto elas ficam esperando que alguém aja, não percebem que podem, muito bem, fazer alguma coisa elas mesmas. Isso nos traz à pergunta que abre este post: o que nos prende? O que nos impede de fazer alguma coisa para  ao menos, tentar melhorar o mundo em que vivemos?

No dia 3 de outubro foi o primeiro turno das eleições de 2010. Eu fui votar logo depois do almoço. Me lembro que ao chegar ao colégio, uma mulher estava acabando de sair. Foi possível ouvi-la comentar com a filha, que segurava sua mão, como ela detestava aquilo. Recordo-me perfeitamente de suas palavras, ditas em tom de revolta, como um adolescente que acaba de ser proibido pelos pais de ir a algum lugar e desabafa com o amigo: 
"Ai, não sei porque a gente tem que vir fazer isso!"
Fiquei pensando. Realmente, olhando por um certo ponto de vista, não deixa de ser uma coisa extremamente sacal. Não o ato de votar, mas tudo o que o envolve: as campanhas políticas que transformam o Brasil numa quase arena de batalha (ou, dependendo da situação, numa arena de circo); os candidatos que sempre prometem e nem sempre cumprem; a poluição das ruas por "santinhos" dos candidatos (a maioria dos quais, de santo, só tem mesmo a propaganda); a poluição visual; a poluição sonora com os carros de som nos metendo na cabeça aqueles jingles horríveis, que chegam a ser piores do que as músicas de certas bandas (ou não)... Como eu disse, é normal que isso encha o saco.

Por outro lado, a atitude daquela moça também reflete a atitude de muitas pessoas em relação a situações diversas do período eleitoral. O desamparo de um estudante ao ser reprovado no vestibular; a revolta de um pai de família ao ver sua casa tomada pela água de uma enchente; a indignação de uma dona-de-casa com a "pouca-vergonha" da juventude de hoje...

É certo que existem coisas que independem de nossas ações. Mas quantas vezes nós simplesmente deixamos de agir e depois culpamos os outros?

Será que aquele estudante realmente estudou para o vestibular? Ou apenas deixou para estudar para o vestibular? Há uma diferença!

Será que o pai de família fez a sua parte para evitar aquela enchente? Ou viu a rua totalmente cheia de lixo - lixo esse que ele ajudou a acumular, às vezes até sem perceber - e simplesmente passou adiante?

Será que a dona-de-casa não está sendo conivente com a situação atual da juventude, mesmo indiretamente, ao fazer um eloquente discurso para os filhos sobre "a moral e os bons costumes", mas permitir que eles, mesmo pequenos, assistam a cenas de nudez e sexo nas novelas e nos desfiles carnavalescos?

O que nos impede de agir, de fazer a nossa parte? Será que temos vergonha de nos mostrar diferentes dos outros? Medo do que vão dizer a nosso respeito? Isso é engraçado, pois se houver um corintiano no meio de um grupo de palmeirenses, ele vai defender seu time de qualquer maneira! Por outro lado, se esse corintiano for preocupado com o meio ambiente e vir que todos os palmeirenses estão tomando cerveja e jogando as latas no chão, muito provavelmente ele não falará nada. Por quê? O que o impediu, o que o levou a se calar?

Ficamos tão tocados com campanhas que tentam melhorar o mundo. Por que nem sempre participamos? Mais ainda, por que não fazemos nossa própria campanha, se achamos que algo não está certo? Por que deixamos tudo para os outros? Porque não temos tempo? Mas se for pra ir a uma festa, nós sempre arranjamos tempo, não é?

Até quando vamos ficar calados? Deixar que nos prendam, que nos ceguem? Provavelmente até alguém vir e nos abrir os olhos. Mas será que daí nós vamos querer enxergar? Mesmo livres, vamos querer agir?

Esta é a triste verdade. O que nos prende, o que nos impede de escutar, de ver, de falar, de agir... somos nós mesmos!

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