terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A (curta) história de um cachalote

"Também não se falou mais no fato de que, contra todas as probabilidades, um cachalote havia de repente se materializado muitos quilômetros acima da superfície de um planeta estranho.

E como não é este o meio ambiente natural das baleias em geral, a pobre e inocente criatura teve pouco tempo para se dar conta de sua identidade "enquanto" cachalote, pois logo em seguida teve de se dar conta de sua identidade "enquanto" cachalote morto.

Segue-se um registro completo de toda a vida mental dessa criatura, do momento em que ela passou a existir até o momento em que ela deixou de existir.

Ah...! O que está acontecendo?, pensou o cachalote.

Ah, desculpe, mas quem sou eu?

Ei!

Por que estou aqui? Qual a minha razão de ser?

O que significa perguntar quem sou eu?

Calma, calma, vamos ver... ah! que sensação interessante, o que é? É como... bocejar, uma cócega na minha... minha... bem, é melhor começar a dar nome às coisas para eu poder fazer algum progresso nisto que, para fins daquilo que vou chamar de discussão, vou chamar de mundo. Então vamos dizer que esta seja minha barriga.

Bom. Ah, está ficando muito forte. E que barulhão é esse passando por aquilo que resolvi chamar de minha cabeça? Talvez um bom nome seja... vento! Será mesmo um bom nome? Que seja... talvez eu ache um nome melhor depois, quando eu descobrir pra que ele serve. Deve ser uma coisa muito importante, porque tem muito disso no mundo. Epa! Que diabo é isso? É... vamos chamar essa coisa de rabo. Isso, rabo. Epa! Eu posso mexê-lo bastante! Oba! Oba! Que barato! Não parece servir pra muita coisa, mas um dia eu descubro pra que ele serve. Bem, será que eu já tenho uma visão coerente das coisas?

Não.

Não faz mal. Isso é tão interessante, tanta coisa pra descobrir, tanta coisa boa por vir, estou tonto de expectativa...

Ou será o vento?

Realmente tem vento demais aqui, não é?

E, puxa! Que é essa coisa se aproximando de mim tão depressa? Tão depressa. Tão grande e chata e redonda, tão... tão... Merece um nome bem forte, um nome tão... tão... chão! É isso! Eis um bom nome: chão! Será que eu vou fazer amizade com ele?

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E o resto - após um baque súbito e úmido - é silêncio."

Do livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams


Quantas vezes nós, jovens, somos como esse pobre cachalote? Quando começamos a nos dar conta de nossa identidade, do que realmente somos; quando começamos a "despertar" para a vida, vem o mundo e nos joga no chão?

Mas, ao contrário do cachalote, nós temos o poder de mudar isso antes que seja tarde. Por quê? Porque temos uma referência, seja em nossos pais, ou em nossos amigos... temos a experiência de quem já passou pelo mesmo que nós. E mesmo que escolhamos ignorar isso (como a maioria, infelizmente, faz), ainda teremos a chance de nos reerguer. Basta ter a vontade e a coragem para isso!

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