sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Tempestade e as Gaivotas

Gigantesco transatlântico deixava, um dia, o porto de partida e, como todos os navios que partem, era escoltado por uma nuvem de gaivotas prateadas. Ao fim de meia hora de viagem o tempo tornou-se ameaçador. Um vento violento levantava ondas de espuma. Esboçava-se no céu uma tempestade tremenda. Ora, ainda que lutando com toda a força de suas máquinas contra os elementos desencadeados, o possante navio avançava penosamente entre as vagas agitadas.

- Pobres avezinhas - dizia um viajante que olhava do tombadilho as gaivotas e as lastimava. - As nossas máquinas, que representam milhares de cavalos-vapor, com dificuldade resistem à tempestade. Como podeis vós, com as vossas débeis asas, lutar contra o tufão, desamparadas no céu?

E, de repente, aquele homem, que tão compadecido se mostrava pelas avezinhas do mar, ficou atônito. É que as pequeninas gaivotas, estendendo as asas que o Criador do universo lhes deu, abandonaram o navio na procela e ergueram-se acima da tempestade; passaram a voar numa região serena do céu.

Enquanto isso, o homem, com sua presunçosa ciência, lutava penosamente para resistir à fúria dos elementos.

Reparai bem, meu amigo. Esse navio é o homem que pretende lutar unicamente com meios próprios. As asas das gaivotas são as mãos débeis de quem ora.

Pelas asas poderosas da prece eleva-se o homem acima das tempestades da vida e pode voar placidamente, como as gaivotas ligeiras, numa região que jamais será atingida pelos vendavais das paixões.

Do livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan

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