Uma fábula oriental descreve um ajuntamento de ociosos, no mercado de uma cidade da Síria, em torno de um cão morto que ainda mostrava, amarrada ao pescoço, a corda com que o haviam arrastado pelo chão. Os que o cercavam, olhavam-no com repugnância.
- Empesta o ar - disse um, apertando o nariz com os dedos e trejeitando uma careta de nauseado.
- Reparem na sua pele rasgada que nem para correias de sandálias serve - galhofava outro.
Um tipo corpulento aludiu às orelhas sujas e sangrentas do animal, e rematou:
- Foi, sem dúvida, enforcado por ladrão.
Desse grupo de homens aproximou-se um desconhecido que ouvira os diversos comentários. Em seu rosto resplandecia estranha luz e todo o seu porte indicava dignidade fora do comum. Pondo os olhos no animal morto e vilipendiado, disse, em seu belo e límpido arameu:
- As pérolas desmerecem diante da alvura dos seus dentes.
Todos os circunstantes voltaram-se para ele com assombro, e, vendo-o tão sereno e compadecido, indagavam, quase em segredo, uns aos outros, quem poderia ser aquele homem. E retiravam-se cabisbaixos, envergonhados, quando alguém alvitrou:
- Deve ser Jesus de Nazaré, que só Ele sabe encontrar qualquer coisa digna de piedade e aprovação, até mesmo num cão morto!
Do livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan
Nenhum comentário:
Postar um comentário